sábado, 24 de julho de 2010

São José, o pai que muito amou e muito confiou


Palavras de Sua Santidade o Papa Bento XVI por ocasião da inauguração da fonte dedicada a São José nos jardins do Vaticano.


Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Ilustres Senhores e Senhoras!


É, para mim, motivo de alegria inaugurar esta fonte nos
Jardins Vaticanos, em um cenário natural de singular beleza. É um trabalho que vem a incrementar o patrimônio artístico deste encantador espaço verde da Cidade do Vaticano, rico de testemunhos histórico-artísticos de várias épocas. De fato, não somente os gramados, flores, plantas, árvores, mas também as torres, pequenas casas, templos, fontes, estátuas e outras construções tornam estes Jardins de uma fascinação única. Esses foram para os meus Predecessores, e são também para mim, um espaço vital, um lugar que de bom grado frequento para transcorrer um pouco de tempo em oração e sereno descanso.

Ao destinar a cada um de vós a minha cordial saudação, desejo manifestar meu vivo reconhecimento por este presente, que me haveis ofertado, dedicando-o a
São José. Obrigado por esta delicada e amigável recordação! Foi uma empreitada desafiadora, que teve a colaboração de muitos. Agradeço, antes de tudo, o Senhor Cardeal Giovanni Lajolo também pelas palavras que me dirigiu e pela interessante apresentação dos trabalhos desenvolvidos. Com ele, agradeço ao Arcebispo Dom Carlo Maria Viganò e o Bispo Dom Giorgio Corbellini, respectivamente secretário-geral e vice-secretário-geral do Governatorato. Exprimo vivo agradecimento à Direção dos Serviços Técnicos, ao projetista e ao escultor, aos consultores e trabalhadores, com um pensamento especial para os Cônjuges Hintze e para o senhor Castrignano, de Londres, que generosamente financiaram o trabalho, bem como às Irmãs do Mosteiro de São José, em Quioto. Uma palavra de gratidão à Província de Trento, aos municípios e às empresas pela sua contribuição.

Esta fonte é dedicada a São José, figura querida e próxima do coração do Povo de Deus e de meu coração. Os seis painéis de bronze que a adornam evocam muitos momentos de sua vida. Gostaria de deter-me brevemente sobre esses. O primeiro painel representa o casamento entre José e Maria
; é um episódio que se reveste de grande importância. José era da linhagem real de Davi e, em virtude de seu matrimônio com Maria, conferirá ao Filho da Virgem - ao Filho de Deus - o título legal de "filho de Davi", cumprindo assim as profecias. O casamento de José e Maria é, por isso, um acontecimento humano, mas determinante na história da salvação da humanidade, na realização das promessas de Deus; por isso, também possui uma conotação sobrenatural, que os dois protagonistas aceitam com humildade e confiança.

Logo chega para José o momento da provação, uma provação desafiadora para sua fé. Prometido como esposo de Maria, antes de ir viver com ela, descobre a misteriosa maternidade e fica conturbado. O evangelista Mateus sublinha que, sendo justo, não queria repudiá-la, por isso decide deixá-la em segredo (cf. Mt 1, 19). Mas em sonho - como é figurado no segundo painel -, o anjo lhe faz compreender que o que acontecia em Maria era obra do Espírito Santo; e José, confiando-se a Deus, consente e coopera no plano da salvação. Naturalmente, a intervenção divina na sua vida não poderia não perturbar seu coração. Confiar-se a Deus não significa ver tudo claro segundo os nossos critérios, não significa realizar aquilo que nós projetamos; confiar-se a Deus significa dizer esvaziar-se de si, renunciar a si mesmo, porque somente quem aceita perder-se para Deus pode ser "justo" como São José, pode confirmar, isto é, a própria vontade àquela de Deus e, assim, realizar-se.

O Evangelho, como sabemos, não conservou qualquer palavra de José, o qual desenvolve a sua atividade em silêncio. É o estilo que o caracteriza em toda a existência, seja antes de encontrar-se diante do mistério da ação de Deus em sua esposa, seja quando - ciente desse mistério - está ao lado de Maria na Natividade - representado no terceiro painel. Naquela santa noite, em Belém, com Maria e o Menino, é José, a quem o Pai Celeste confiou o cuidado cotidiano de seu Filho na terra, que auxilia na humildade e no silêncio.

O quarto painel reproduz a cena dramática da Fuga para o Egito, para escapar da violência assassina de Herodes. José é forçado a deixar a sua terra com sua família, rapidamente: é um outro tempo misterioso na sua vida; uma outra provação em que lhe é pedida plena fidelidade ao desígnio de Deus.

Depois, nos Evangelhos, José só aparece em um outro episódio, quando permanece em Jerusalém e vive a angústia de perder seu filho Jesus. São Lucas descreve a busca frenética e a maravilha do re-encontro no Templo - como aparece no quinto painel -, mas ainda mais a surpresa de ouvir as misteriosas palavras: "Por que me procurais? Não sabe que eu devo ocupar-me das coisas de meu Pai?" (Lc 2, 49). É esta dúplice pergunta do Filho de Deus que nos ajuda a compreender o mistério da paternidade de José. Recordando aos próprios genitores o primado d'Aquele que chama de "meu Pai", Jesus afirma o primado da vontade de Deus sobre toda a outra vontade, e revela a José a verdade profunda de seu papel: também ele é chamado a ser discípulo de Jesus, dedicando a existência ao serviço do Filho de Deus e da Virgem Mãe, em obediência ao Pai Celeste.

O sexto painel representa o trabalho de José na oficina de Nazaré. Ao lado dele trabalhou Jesus. O Filho de Deus permanece oculto aos homens e somente Maria e José custodiam o seu mistério e o vivem todos os dias: o Verbo encarnado cresce como homem à sombra de seus genitores, mas, ao mesmo tempo, esses permanecem, por sua vez, escondidos em Cristo, no seu mistério, vivendo a própria vocação.

Queridos irmãos e irmãs, esta bela fonte dedicada a São José constitui um simbólico lembrete aos valores da simplicidade e da humildade no fazer cotidianamente a vontade de Deus, valores que marcaram a vida silenciosa, mas preciosa do Guardião do Redentor. À sua intercessão, confio as expectativas da Igreja e do mundo. Juntamente com a Virgem Maria, sua esposa, ele guie sempre o meu e o vosso caminho, a fim de que possamos ser instrumentos alegres de paz e de salvação.

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